Eu sou o que quero ser

NatashRomanoff
Jagunços do Caminhos de Rosa

Quando nos desafiamos e confiamos muito em nós mesmos somos capazes de coisas que muitos julgariam impossível. Isso é um fato em quaisquer áreas da vida, seja pessoal ou profissional.

Querer ser forte é um desejo de praticamente todas as pessoas que eu conheço, porém a força está dentro de cada um e não é comprada em nenhuma instituição comercial.

Não há mágica senão acreditar piamente em si mesmo, sair da condição de vítima e buscar o que se mais quer e espera de você mesmo.

Eu quero, eu posso, eu consigo

Existe uma força muito grande dentro de nós que se chama vida. Querer viver é algo que nos motiva a superar limites e muitas dificuldades. Porém, essa força só é conhecida quando realmente é necessária, no entanto, muitos desistem antes de tentar.

Ter uma doença autoimune, incapacitante e muito dolorosa não é motivo para ter uma condenação à morte. Muito pelo contrário, isso deve motivar a lutar e se  conhecer profundamente. Buscar aquela força intensa e muito maior que qualquer desafios que a vida possa proporcionar.

Amigos Ma(lucos)ravilhosos

PC200-Betão
Ponto de Controle dos 200 km – Betão

Eu tenho a alegria de ter amigos ma(lucos)ravilhosos ao meu lado que me desafiam a coisas que eu jamais ousaria fazer. Mas eles acreditam tanto em mim que acabo me dando por vencido e entrando de cabeça dos desafios propostos por eles. Às vezes não sei quem é mais insano, eles por me proporem esses desafios ou eu por os aceitar.

O último desafio totalmente impensável que um amigo me propôs foi de realizar uma prova de ciclismo chamada Caminhos de Rosa que consiste em realizar 300 km de Mountain Bike em 30 horas. Não preciso dizer que o medo falou muito mais alto que a motivação e vontade de fazer tal prova, porém não me deixei abalar e aceitei entrar de cabeça nessa loucura.

Planejamento e Treinamento

FMC-Frango
Frango da Federação Mineira de Ciclismo

Desde a inscrição no evento até o dia da prova em si, foram realizados vários planejamentos e treinos para que conseguíssemos realizar a prova com o menor esforço possível, menor desgaste e, no meu caso em específico, sem ser prejudicado pelas consequências da Espondilite Anquilosante.

Intensifiquei a minha alimentação, meu treinamento funcional, o treino com bike e o meu psicológico que pode prejudicar e muito na realização da prova.

Durante esse período, fizemos duas viagens de bike com mais de 200 km e muitas trilhas com muitas subidas de morro para que nos acostumássemos com as dificuldades encontradas. Eu fiz, ainda, com outros amigos um pedal treino que consistiu em 140 km entre Belo Horizonte e Itabirito, passando por Sabará, Nova Lima, Honório Bicalho, Rio Acima, Itabirito e retornando à BH.

Acredito que quando se tem foco e determinação tudo é possível, porém quando se tem uma doença crônica os cuidados são mais importantes que para as pessoas ditas normais. Porém, o que quis com esse desafio foi mostrar para mim mesmo que quando se tem determinação e autoconfiança tudo é possível. Eu acredito muito em mim.

A Prova

HelioEstephanoZumzum
Reunião antes da prova

A prova teve início em Três Marias, cidade do interior mineiro, as 6:00 da manhã do dia 18 de agosto e consistiu em percorrermos os 302,8 quilômetros até a cidade de Cordisburgo, também no interior de Minas Gerais, onde tínhamos até o meio dia do dia 19 de agosto para cruzarmos a linha de chegada, o que conseguimos realizar às 10:17 minutos exaustos e felizes.

A corrida passa pelo Caminho da Boiada que fora acompanhada por Guimarães Rosa em 1952 e é o único que comprova que ele realmente esteve ali. Quase 100% do percurso foi realizado em estrada de terra com muita areia, poeira e costelas que dificultam o desempenho do atleta (já estou abusado).

Os primeiros 160 km eu achei mais difíceis que a parte final do trajeto. O motivo de eu achar isso é que os 90 quilômetros iniciais é composto por um falso plano que obriga o atleta a pedalar, praticamente, incessantemente e isso é muito desgastante. Na segunda parte do trajeto há algumas subidas e descidas em que nesses pode-se descansar, contudo não se pode baixar a guarda, pois a areia e poeira do caminho podem esconder buracos e pedras, como o fazem em diversos momentos.

HelioJordanaViniMarina
Cruzar a linha de chegada e ser recebido por quem mais torce por mim é incrível

Claro, realizar 300 km em menos de 30 horas é extremamente desgastante e não há como não sentir dores. No meu caso, dores fortes no trapézio e lombar que estou cuidando com repouso e alongamentos.

Tão impossível quanto não sentir dor é não me sentir orgulhoso de mim mesmo. Ao cruzar a linha de chegada, a emoção foi tão grande que algumas lágrimas desceram pelo meu, empoeirado, rosto e até o momento em que escrevi esse post, ainda era fácil sentir a voz embargada de tamanha emoção e orgulho de mim.

Ter o diagnóstico de uma doença crônica, no meu caso a Espondilite Anquilosante, não pode e não deve ser uma sentença de dor, invalidez, sofrimentos e desânimos. É importante que tenhamos motivação para fazer diferente e, apesar de tudo, Ser exatamente aquilo que se deseja ser.

Eu optei por viver intensamente a vida e não a dor!